A força da energia jovem no mercado

A força da energia jovem no mercado

Artigo de Paulo Sérgio Pires comenta o perfil profissional de Bárbara Rubim, CEO de sua empresa Bright Strategies e vice-presidência do conselho de administração da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar)

A jovialidade de Bárbara Rubim não a impediu que essa consultora de empresas do setor energético mostrasse sua força e conquistasse rapidamente seu espaço como executiva de destaque ao longo de sua trajetória profissional. Hoje, além de CEO de sua empresa Bright Strategies, ocupa também a vice-presidência do conselho de administração da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), é membro da comissão de infraestrutura da OAB Nacional e ainda faz parte da diretoria do Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).

Com quase 10 anos de presença no setor elétrico, Bárbara tem sido acessada por empresas de diferentes portes que desejam encontrar o melhor modelo de negócio e projetos, especialmente neste momento de transição para as energias renováveis.

Formada em Direito pela PUC-MG e com MBA em finanças e estratégias empresariais pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), tem uma carreira com bastante amplitude, tendo passado por vários segmentos e especialidades, ainda que tenha apenas 31 anos de idade.

Estudos

Na vida acadêmica, Bárbara sempre fez muitos cursos extracurriculares e, antes do vestibular, tinha certeza de que seria professora, mas, por pressão familiar, acabou cursando Direito. “Meu avô era bacharel em ciências jurídicas e foi procurador da República. Achava então, que poderia ser docente de Direito, já que não podia mais ser uma professora nos moldes tradicionais”, lembra.

Com o tempo, Bárbara entendeu que as carreiras jurídicas eram intrincadas para atuar no Brasil, e mesmo assim, realizou o curso inteiro já pensando no mestrado. Bem cedo, fez estágios, gostava de escrever artigos de opinião em publicações especializadas e organizar eventos na faculdade, tudo para possuir um currículo sob medida para a pós-graduação.

Em 2015, começou seu MBA em economia brasileira aplicada na Fipe/USP, mas acabou desistindo, por causa de um sério problema de saúde. Em 2017, quando morava em Uberlândia (MG), encontrou nova oportunidade para concluir um MBA, e assim encerrou esta fase acadêmica inicial.

Vivência

Nascida em Londrina (PR), foi criada em Minas Gerais. Quando menina, a família mudava muito de cidades e estados por causa do trabalho do seu pai, que trabalhava em uma grande construtora de obras de infraestrutura. Contudo, no passado, os Rubims também tiveram um restaurante de massas no centro de São Paulo, onde Bárbara também brincava e corria pelos corredores entre as mesas, local em que as pastas ficavam descansando. “Eu me identifico muito com a culinária. O povo e a maioria dos meus amigos é residente em terras mineiras”, conta ela.

Com 10 anos de idade, acabou indo morar com sua avó Rosa, em Belo Horizonte (MG), com quem residiu até se formar na faculdade. Após a graduação, morou com ela por mais seis meses, e depois, se mudou para São Paulo para trabalhar no Greenpeace. Aos 16 anos, havia recebido uma proposta para atuar como voluntária nessa organização em Belo Horizonte, entidade que tem um trabalho notório relacionado a clima e energia. E assim, ficou envolvida com o tema.

Clima e energia

No setor de energético, foi uma construção feita ao longo dos anos. Teve alguma interface profissional com a área quando também atuava como assessora parlamentar, e depois de formada, recebeu um convite do Greenpeace Brasil para tomar parte da sua equipe profissional. No início, trabalhava com transportes e mobilidade urbana; depois, transporte renovável, até que migrou integralmente para energia renovável.

“Foi um momento muito importante, porque as políticas públicas renováveis no Brasil, sobretudo, para a área solar, estavam sendo construídas. Não eram apenas aquelas de geração distribuída, mas também as políticas exclusivas para leilões de energia solar. Foi, então, um momento bastante adequado para minha entrada no setor”, analisa ela.

Em relação à transição energética, aspecto que ela trabalha enfaticamente hoje em dia, afirma que é um momento ímpar e garante que está muito feliz por fazer parte dessa transformação. Seu entusiasmo é significativo ao lembrar onde estavam o planeta e o país em 2010, quando iniciou seu trabalho diretamente com energia, e como hoje se encontra o Brasil e o mundo.

“Observamos também o tema das mudanças climáticas como vetor de aceleração, apesar da morosidade perto do que a gente precisa chegar. É impossível ela não acontecer. É muito importante que o setor de energia também tenha essa consciência. As energias renováveis, tantos nos grandes projetos como nos de menor porte, como também a geração distribuída, têm muito a se beneficiar com a transição energética a partir da mudança cultural e de valores nas empresas e pessoas. Além disso, há disponibilidade de recursos de financiamento a fundo perdido para essas mudanças”, avalia.

Ações

O trabalho desenvolvido por Bárbara é reconhecido no mercado por seu estilo. Sua empresa nasceu naturalmente sem um grande planejamento específico. A consultoria teve início após sua saída do Greenpeace em 2017, quando foi trabalhar na Alsol Energias Renováveis, em Uberlândia. A verdade é que a jovem não conseguiu se adaptar mais à dinâmica daquela cidade, após ter vivido em São Paulo.

Na época como freelance, já desenvolvia algumas atividades na função de consultora, mas nada ainda especificamente para o setor energético. Às vezes até havia interface, quando fazia serviços para a ONU Habit e estudos sobre mudanças climáticas, mas não muito além disso.

“Quando estava no processo de mudança para voltar a São Paulo, conversando com amigos, eles falaram do meu conhecimento específico de regulação, visão de negócios, aplicação de legislação para criar novas transações, ou solucionar problemas específicos. Por isso achavam que tinha mercado para eu trabalhar. Havia, de fato, uma demanda reprimida neste espaço”, comenta.

Em um certo dia, recebeu uma ligação de quem que seria seu primeiro cliente. Uma pessoa a conheceu num evento do setor e queria saber se prestaria consultoria para ela. O fato foi o gatilho para se desligar da empresa em Uberlândia e seguir novos rumos, com uma carreira empreendedora numa consultoria independente própria voltada à análise do setor de elétrico e suporte a empresas, governos e investidores em questões regulatórias e na estruturação de modelos de negócio para a geração distribuída.

Conceito empresarial

Ela define sua empresa hoje como uma consultoria pequena, com nicho de atuação muito dedicado para trabalhar com excelência. “Somos poucos no time, mas uma equipe muito dedicada e eficiente. É uma grande realização, porque os projetos são interessantes. Então quando desenvolvemos um modelo de negócio de um cliente, com as aspirações dele que muitas vezes parecem desconectadas e as transformamos em algo viável economicamente e legalmente do ponto de vista regulatório, a satisfação é imensa”, expõe ela.  

Outra realização profissional importante desta profissional ocorreu em 2015, quando participou de um evento em Vancouver, no Canadá, época em que foi eleita pelo Banco Real Canadense como um dos cinco jovens mais influentes e em crescimento do setor de energias renováveis do mundo. “Foi um reconhecimento muito bacana de um trabalho que na época ainda estava começando”, constata.

Lobbying

Na carreira houve também um período em que atuou em assessoria de parlamentar na qual passou por experiências em várias frentes. Viveu na prática a rotina do Legislativo e contatos diretos com deputados. Mesmo enquanto estava dentro do Greenpeace ajudava na atuação no setor de políticas públicas, chegando a ficar até três dias por semana em Brasília para cobrir a agenda e aprovação de projetos.

Na Absolar, também tem contribuído muito nessa especialidade dando suporte no desenvolvimento de estratégias. Admite que foi uma atividade que lhe deu uma perspectiva diferente e “talvez menos ingênua” sobre o funcionamento e engrenagem do Congresso. A vivência legislativa ajudou Bárbara a perceber a força de fato da mobilização da sociedade para resolução de certos temas, mas também que isso não basta para determinados assuntos. “Foi uma experiência que abriu um pouco meus olhos sobre o modus operandi do poder, o que me ajudou a criar uma visão estratégica, que aplico hoje em várias áreas”, deduz ela. “Durante esse período observei coisas absurdas acontecerem, porém que moldaram a forma que me comporto, observo e me posiciono”.

Vida pessoal

Quem conhece o dia a dia de Barbara Rubim pode pensar que ela é uma workaholic típica, mas ela mesmo se define muito mais como analógica e como integrante do mundo off-line, ainda que fique bastante tempo nas redes sociais, sobretudo no seu universo profissional. Ela gosta de ler, caminhar, explorar novos lugares e viajar. “Aprecio muito ir a uma cafeteria, especialmente quando leio um livro ali”, relata, mas admite que também pode trabalhar naquele espaço de lazer, misturando trabalho com lazer. Adora montar quebra-cabeças e entende que muito do que faz no trabalho não deixa de ser a montagem de um quebra-cabeça do negócio.

Do ponto de vista pessoal, uma experiência marcante na sua vida foi a perda do seu irmão que morreu em um acidente automobilístico. “É um fato de que a gente nunca se recupera. Assisti a um vídeo da Sheryl Sandberg, a chefe operacional do Facebook, em que falava que o luto é como se fosse uma ‘mochilinha de tristeza’ que você carrega. Há dias em que você permite abrir a mochilinha, e há outros em que você não abre, mas ela está sempre com você. É um pouco como me sinto. Foi um processo bastante difícil na época, mas a vida segue…. De certa forma, sou grata por ter vivido 29 anos com meu irmão. Foi uma das melhores pessoas com quem convivi. Melhor coração que conheci”, conta ela.

Espiritualidade

Com ascendência judaica por parte do avô paterno, sua família é parte católica e parte protestante. Sua espiritualidade lhe ajudou imensamente no momento de questionamento da perda do irmão, porque era muito difícil entender a situação, contudo depois foi o que ajudou a alcançar a paz interior. “Fui batizada numa igreja luterana e me vejo mais como protestante do que como católica, mas tenho muito interesse na cultura judaica e é um ponto da família que se perdeu que gostaria de resgatar e explorar”, descreve.

A vida também pode proporcionar momentos alegres e pitorescos, que ela nunca irá esquecer. Bárbara lembra que aos 21 anos, época em que se voluntariou ao Greenpeace foi um desses. “Foram sete anos de voluntariado e tive a oportunidade de embarcar no navio dele, que percorria a região amazônica. Às vezes era a única tripulante que falava português. Mas foi uma experiência incrível e diferente. Ainda não tinha me formado e quando veio o convite e aceitei, corri o risco de ter que atrasar minha graduação, porque simplesmente faltei um mês e meio de aulas. Dei sorte pela quantidade de feriados na época e apoio dos professores”, relata.

Embarcada

Ele narra que naquele período teve uma vida praticamente de marinheiro e na viagem até aprendeu a dar nós de marinharia, descascou muita batata, lavou bastante louça e o chão do convés. Existiam situações muito divertidas dentro do navio, segundo ela. Uma dessas lembranças foi o trabalho de night watch, ou seja, um posto de patrulha à noite, porque há muita pirataria no mar e na região amazônica é até comum. Seu turno era da meia-noite às quatro horas da manhã e a função dela era fazer uma ronda no navio para garantir a segurança, e se se notasse algum barco se aproximando soaria o alarme para acordar o capitão.

Hoje, enfim, é capitã do seu próprio negócio e considera sua consultoria uma das maiores realizações profissionais e não porque seja um negócio gigante ou superempresa. Para a executiva a sensação de gerar emprego é muito boa para ela pessoalmente e mesmo que ainda a folha de pagamento não tenha muitos nomes listados. “A sensação de gerar renda e trabalho é muito boa”, finaliza ela.

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