Nos últimos anos, com a intensificação dos eventos climáticos, como secas prolongadas, enchentes repentinas e mudanças bruscas nos regimes de chuvas, as usinas hidrelétricas enfrentam o desafio de manterem suas operações estáveis e eficientes. Com a variabilidade hídrica, que afeta diretamente a geração de energia, o setor passou a investir em novas tecnologias e estratégias de adaptação.
De acordo com o levantamento da Agência Internacional de Energia realizado em 2024, cerca de 60% das hidrelétricas do mundo precisarão passar por modernizações até 2035 para continuar operando de forma segura e sustentável. No Brasil, onde mais de 65% da matriz elétrica depende da força das águas, as medidas de adaptação tornaram-se urgentes.
Segundo Cleliton de Lima Dalben, técnico em manutenção mecânica de usinas hidrelétricas, as principais soluções são o monitoramento hidrometeorológico em tempo real, modernização de turbinas e sistemas de controle, o uso de inteligência artificial para manutenção preditiva e o planejamento integrado de bacias hidrográficas. Além disso, o técnico destaca que o investimento em usinas híbridas vem crescendo e combinando geração hídrica com fontes solar e eólica, e sistemas de armazenamento por baterias ou bombeamento reversível.
Igualmente, a gestão de sedimentos e a restauração de áreas de nascente e mata ciliar fazem parte das novas diretrizes ambientais do setor, auxiliando na redução de erosões e picos de vazão que ameaçam a integridade das barragens. Porém, com base nas mudanças descritas, para o técnico, o segredo está na antecipação. “Quando monitoramos o desempenho das turbinas e antecipamos o desgaste de peças críticas, evitamos a parada da planta em momentos de escassez. A manutenção preditiva é tão importante quanto a engenharia da barragem”, afirma Lima.
Em um país onde a água ainda é a base da geração elétrica, adaptar as hidrelétricas aos novos padrões climáticos não é apenas uma questão técnica, mas uma estratégica de necessidade. A adaptação não deve ser um projeto pontual, mas um processo contínuo, e investir em resiliência é garantir que o Brasil continue sendo uma potência energética, mesmo em um futuro cada vez mais imprevisível.
Diante de um clima que já apresenta sinais de maior intensidade e irregularidade, as adaptações precisam avançar com urgência técnica, financeira, com o protagonismo dos técnicos que conhecem a planta, e com decisões estratégicas dos operadores e governos.
“A adaptação é um processo constante de avaliar riscos, priorizar intervenções e garantir que a operação esteja alinhada com o novo clima. A manutenção que eu faço hoje evita uma parada que pode custar milhões amanhã”, finaliza o técnico.





