Do excesso à oportunidade os desafios de transformar energia renovável em vantagem para o Brasil

Do excesso à oportunidade: os desafios de transformar energia renovável em vantagem para o Brasil

Nos últimos anos, o Brasil se tornou referência global na expansão das fontes renováveis, especialmente solar e eólica. O avanço é motivo de orgulho: já ultrapassamos a marca de 60 GW em energia solar instalada, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A cada mês novas usinas e sistemas de geração distribuída entram em operação. Porém, esse crescimento acelerado pode ser uma vantagem mas traz desafios que precisam ser enfrentados de forma colaborativa, entre órgãos reguladores, operadores do sistema, distribuidoras, empreendedores e consumidores.

Um dos principais obstáculos, está na gestão do chamado “excesso de energia”. Em determinados horários do dia e em regiões específicas, a produção renovável supera a demanda local e a capacidade de escoamento da rede. Nesses casos, o Operador Nacional do Sistema (ONS) precisa portanto reduzir ou até suspender temporariamente a geração de algumas unidades, num processo conhecido como curtailment. O efeito é negativo para todos: desperdício de energia limpa, perdas financeiras para investidores e potenciais custos adicionais na tarifa.

O cenário não é exclusivo do Brasil. Diversos países que avançaram rápido na matriz renovável também tiveram de lidar com situações semelhantes. A diferença está na adoção de protocolos claros, investimentos em tecnologias de armazenamento, assim como estímulo a novos modelos de consumo. O aprendizado internacional mostra que é possível transformar a abundância de energia limpa em oportunidade de desenvolvimento.

Entre as soluções possíveis, um primeiro passo é definir regras transparentes para eventuais cortes de geração. Isso dá previsibilidade ao investidor e fortalece dessa forma a confiança no setor. Outra medida essencial é acelerar projetos de armazenamento, seja com baterias de grande porte, seja com hidrelétricas reversíveis, capazes de guardar energia nos momentos de sobra e liberá-la nos horários de maior consumo.

Também é preciso incentivar a chamada “resposta da demanda”. Se consumidores forem estimulados a ajustar seu uso em horários de pico de geração renovável, acionando indústrias, data centers ou recarga de veículos elétricos, por exemplo, o sistema ganha flexibilidade e diminui a necessidade de cortes. Além disso, ampliar a integração entre geração distribuída, distribuidoras e o ONS é fundamental para garantir que as informações circulem em tempo real, permitindo decisões mais ágeis e seguras.

No fim, o desafio do “excesso de energia” é, na verdade, resultado positivo da transição energética. É melhor lidar com abundância de renováveis do que com escassez, desde que ela seja bem administrada. O Brasil tem experiência técnica, recursos naturais únicos e um setor privado ativo. Se cada agente fizer sua parte, com reguladores dando segurança, operadores modernizando a rede, empresas inovando e consumidores participando de forma consciente, o país tende a  transformar esse momento em vantagem competitiva. O excesso de energia limpa não deve ser visto como ameaça, mas como um convite para acelerar a modernização do sistema elétrico e consolidar o protagonismo do Brasil na nova economia da energia.

Artigo de Rodrigo Bourscheidt, CEO e fundador da Energy+
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