O Encontro Impactos Positivos 2025 reuniu lideranças para discutir a transição energética às vésperas da COP30. No painel “O Poder das Corporações – Responsabilidade ou Oportunidade?”, Carolina da Costa – Chief Impact Officer da Stone Co. Prêmio profissional do ano em Inovação em Sustentabilidade ANEFAC (2021), e Rogério Saab – superintendente Nacional de Negócios de Impacto e Sustentabilidade na CAIXA, analisaram como empresas e setor financeiro podem acelerar a descarbonização da economia, destacando dilemas, pressões regulatórias e caminhos de inovação social.
A realidade incômoda da dependência fóssil
Carolina da Costa afirmou que as grandes corporações enfrentam um cenário desafiador diante da meta de descarbonização. Segundo ela, a sociedade ainda depende profundamente dos combustíveis fósseis. “Nós somos uma civilização que 80% da nossa economia é combustível fóssil”, destacou a executiva da Stone Co., lembrando que elementos essenciais à vida moderna — fertilizantes, plástico e aço — têm processos altamente intensivos em carbono.
Para Costa, esse contexto exige reconhecer a complexidade da mudança. “Sem combustível fóssil a gente não vive, mas o equilíbrio deveria dar pelo menos uma soma zero”, pontuou. Ela reforçou que a transição será lenta e só se acelerará com inovação tecnológica, estímulos de mercado e políticas públicas mais consistentes.
O papel social como prioridade imediata
A Chief Impact Officer defendeu que, no curto prazo, as corporações devem reforçar sua coerência interna e responsabilidade social. “As empresas precisam trabalhar o social, trabalhar o humano, começando pelos próprios funcionários”, disse.
Ela apontou ainda que muitas companhias têm desafios sérios em suas cadeias de fornecimento, envolvendo questões trabalhistas e reputacionais. Para Costa, a coerência entre discurso e prática será decisiva na construção de credibilidade e impacto real.
O setor financeiro como motor de mudança
Rogério Saab enfatizou que a agenda climática não pode depender apenas dos governos. “Os governos sozinhos não conseguem movimentar a agenda, eles precisam dos atores da sociedade civil e, principalmente, das grandes corporações”, afirmou o superintendente da Caixa.
Ele ressaltou o papel estratégico do setor financeiro, especialmente diante da crescente exigência regulatória. Segundo Saab, o Banco Central do Brasil e outros bancos centrais já sinalizam a necessidade de rastrear emissões ligadas aos investimentos. O chamado escopo 3 — que mede as emissões associadas às atividades financiadas — deverá se tornar obrigatório. “Uma vez forçando o sistema financeiro a fazer esse caminho, todas as empresas vão ser obrigadas a direcionar seus esforços para iniciativas de baixo nível de emissão”, explicou.
Desafios de custos e margens empresariais
O executivo reconheceu que a transição não é simples e implicará ajustes financeiros. “Isso vai ser caro e vai reduzir as margens. Invariavelmente, as margens terão que ser revistas, porque é investimento, é inevitável”, declarou Saab, ao comentar sobre planos de ecoeficiência em implementação.
Na visão dele, esse movimento representa não apenas uma pressão, mas também uma oportunidade para as empresas se reposicionarem e se fortalecerem em um mercado cada vez mais regulado e atento ao impacto climático.
Filantropia estratégica como caminho de conexão
Carolina da Costa também destacou a importância da filantropia estratégica para fortalecer a atuação das corporações. Segundo ela, trata-se de um modelo pouco explorado, mas capaz de aproximar grandes empresas dos negócios de impacto e ampliar os efeitos positivos da transição energética.
A executiva defendeu que investimentos nessa linha podem gerar conexões mais profundas entre inovação social, sustentabilidade e competitividade.
Uma transição justa que não pode excluir os vulneráveis
Ambos os debatedores convergiram na ideia de que a transição energética deve ser justa, garantindo que trabalhadores e comunidades mais vulneráveis não sejam prejudicados. Saab alertou que os impactos da mudança atingirão diretamente populações em situação de maior fragilidade. “A intencionalidade precisa estar presente para que ninguém fique para trás”, concluiu.
O painel evidenciou que corporações e setor financeiro estão no centro da transformação climática, equilibrando responsabilidade, custos e oportunidades diante de um mundo que exige urgência e coerência.
Prêmio Impactos Positivos 2025
No Prêmio Impactos Positivos 2025, diferentes iniciativas brasileiras foram reconhecidas. Na Categoria Ideação, o vencedor foi o SerTão Chapéu (CE). A Categoria Operação premiou a PLUVI Soluções Ambientais Inteligentes (PE). Já a Categoria Tração destacou o Engenho Café de Açaí (AP), e entre os Dinamizadores do Ecossistema, a vencedora foi a Fábrica Social ITI (MG).
Reportagem e foto: Mary de Aquino