Distribuidoras investirão dezenas de bilhões de reais na modernização das redes elétricas nos próximos anos

Distribuidoras investirão dezenas de bilhões de reais na modernização das redes elétricas nos próximos anos

Os planos de investimento e modernização das redes elétricas de cinco distribuidoras – Neoenergia, CPFL, EDP-SP, Cemig e Celesc – somarão várias dezenas de bilhões de reais nos próximos anos. Eles passam pela massiva adoção de medidores inteligentes, a criação de rede de LTE (4G), a gestão da mobilidade e da conectividade das equipes em campo, a adoção de inteligência artificial na operação e no atendimento ao cliente, além de mini grids de energia para pequenos municípios que não contam com redundância no fornecimento de eletricidade. O tema foi discutido no último painel do Fórum Latino-Americano de Smart Grid.

Jader Carneiro, superintendente de Digitalização de Redes da Neoenergia, abriu o painel “Os investimentos pós-renovação das concessões” com uma constatação simples: “Não existem mais consumidores que aceitem ficar sem energia, ainda que por poucas horas”. À frente da maior distribuidora do País em número de clientes, com uma base de ativos de R$ 40 bilhões, ressaltou que os investimentos nos últimos cinco anos somaram R$ 23 bilhões. E há muito mais ainda por vir.

“Teremos até 2030 90% das nossas redes digitalizadas. Além de digitalizar a operação, temos ainda que garantir à equipe em campo mobilidade e conectividade e usar IA massivamente, tanto para aumentar a eficiência da operação, como para melhorar o atendimento ao cliente”, resumiu.

Carneiro citou o pioneirismo da Neoenergia Brasília, a primeira distribuidora a ter uma rede LTE privativa, em 450 MHz. Esta tecnologia que permite que dispositivos móveis acessem a internet em altas velocidades, mesmo em áreas com alta demanda por dados. “Concluímos que seria possível garantir ali uma rede multisserviço, com cobertura e preços adequados”, afirmou. A rede hoje já possui quatro sites LTE em operação, sendo que outros três serão entregues até o final do ano. Para o projeto foi necessário o desenvolvimento de produtos e fornecedores locais.

Inovação e geração de resultados

Já, Marcos Campos, diretor geral da EDP-SP, foi enfático na defesa do olhar de longo prazo para a implantação de políticas estruturantes no setor. E citou o plano da companhia, que deverá investir R$ 5 bilhões até 2030. Ele está baseado em automação, com um aumento de 150% de religadores, de forma a beneficiar 82% dos clientes; na meta de obtenção de 97% de efetividade em telecomunicação e na expansão da rede com mais duas novas subestações por ano.

Ele prevê, ainda, a ampliação da telemedição – hoje presente em 100% dos clientes de alta e média tensão – para ao menos 15% dos de baixa tensão, de forma a blindar a rede elétrica; e a modernização, implantando até maio de 2026, uma infraestrutura que prevê um novo Centro de Operações Integradas (COI), bem como investimento em centros de rede (NOC), de segurança de operações (SOC) e um Sistema Avançado de Gerenciamento de Distribuição (ADMS). Para Campos, no entanto, ainda que seja crucial investir, é fundamental que a distribuidora esteja sempre atenta à geração de resultados de curto, médio e longo prazo.

1,2 milhão de medidores inteligentes

No caso da CPFL, companhia que atende a 10,7 milhões de clientes no Brasil, em 687 municípios, com uma rede de 346 mil quilômetros, Luis Henrique Ferreira Pinto, vice-presidente de Operações Reguladas, informou que a empresa está investindo R$ 4 bilhões por ano. A intenção é adotar 1,2 milhão de medidores inteligentes até 2029, abrangendo 59 cidades. “Sem eles”, declarou o executivo, “simplesmente não evoluiremos”. De acordo com ele, a iniciativa da CPFL permitirá a leitura remota do consumo de energia, faturamento automático, corte e religação da energia remota entre outros benefícios, permitindo ao consumidor a gestão do seu consumo “na palma da mão”.

Pinto, contudo, chamou a atenção à lentidão da regulação frente ao ritmo de avanços proporcionados pela tecnologia. E citou o exemplo dos medidores. “Se, em função da regulação, há uma melhor remuneração de um medidor eletromecânico do que um medidor inteligente, o que acontece?”, perguntou-se ele. Questão à qual rapidamente respondeu: “é fundamental remunerar a tecnologia nova de forma igual à tecnologia anterior. E haver incentivo ao investimento e à modernização.”

O vice-presidente de Operações Reguladas da CPFL também frisou a importância da interoperabilidade entre os medidores de fornecedores diferentes. “Não podemos ficar refém de um único fornecedor”, alertou.

R$ 20 bilhões em 4 anos

De Minas Gerais, Marney Antunes, vice-presidente de Distribuição da Cemig, apresentou o plano de investimentos da empresa, cuja concessão, ao contrário da maioria das distribuidoras, não está sendo renovada este ano. Ela já se deu em 2015 e se estende até 2045. Pelo acordo, no ciclo de 2023 a 2027, a companhia está investindo R$ 20 bilhões para expandir a sua infraestrutura com mais 200 subestações, 30 mil quilômetros de rede, 1,485 milhão de medidores e mais 16.147 religadores.

Antunes ressaltou o projeto da distribuidora em Serra da Saudade, o menor município do país, onde a rede elétrica não possui redundância. Lá, a Cemig criou um micro grid com painéis solares e bateria. Eles são capazes de fornecer energia por até 48 horas, em caso de queda no fornecimento de energia na rede. “Essa rede saiu mais barata – R$ 8 milhões – do que as soluções tradicionais, que nos custariam R$ 12 milhões”, comemorou. Segundo ele, o projeto será inaugurado em setembro e será estendido a mais 25 municípios com características semelhantes.

Eletropostos a cada 50 quilômetros

Tarcísio Rosa, presidente da Celesc, apresentou no painel do Fórum Latino-Americano de Smart Grid o projeto da distribuidora para a entrega de um corredor de eletropostos rápidos e semirrápidos para carros elétricos. Eles não distarão mais do que 50 quilômetros uns dos outros permitindo o carregamento de automóveis em todo o estado de Santa Catarina.

Rosa, contudo, chamou a atenção para os desafios técnicos e operacionais que a inversão de fluxo da geração distribuída (GD) está causando às distribuidoras. Isto ocorre quando unidades de consumo, em vez de consumirem energia da rede, alimentam a rede com a carga gerada em excesso em suas instalações.

“Quando a GD começou, parecia que a inversão de fluxo era um problema apenas das distribuidoras. Hoje, com a rápida expansão da energia solar, não há mais controle da energia injetada e existe o sério risco de blackouts”, ressaltou o presidente. Ele lembrou ainda que o sistema elétrico brasileiro não foi planejado para isto.

Para o presidente da Celesc, a gestão da rede será ainda mais complexa com a entrada das baterias. Rosa defendeu, portanto, a regulação do seu uso, de forma que haja regras para a injeção de sua energia na rede. “É preciso saber, de antemão, quanto e quando essa energia armazenada em baterias será injetada para tornar a gestão da rede factível”, finalizou.

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