O 14º Seminário Internacional Frotas & Fretes Verdes (F&FV), promovido pelo Instituto Besc de Humanidades e Economia, reforçou que a descarbonização do transporte brasileiro vai muito além de uma revolução tecnológica: trata-se de uma estratégia de desenvolvimento nacional. Nos painéis “Estratégias Industriais e Inovação para a Transição: da Indústria ao Transporte” e “Inovações Tecnológicas e Transição Energética na Logística”, representantes da indústria, da academia, assim como do setor público mostraram que o país tem condições únicas para liderar a mobilidade sustentável na América Latina — combinando base industrial sólida, diversidade energética e capacidade tecnológica crescente.
O consenso entre os participantes foi claro: não há transição energética sem indústria, nem competitividade sem inovação. A descarbonização depende da coordenação entre política industrial, infraestrutura, assim como regulação, em um esforço que una empresas, governo e universidades em torno de um mesmo propósito — industrializar para descarbonizar.
Indústria forte e diversidade tecnológica: os alicerces da transição – O painel “Estratégias Industriais e Inovação para a Transição: da Indústria ao Transporte”, mediado por Marcos Oliveira, membro do Conselho de Administração da Iochpe-Maxion, destacou que o caminho brasileiro para a transição energética passa pela neoindustrialização verde e pela convivência entre múltiplas tecnologias.
O GNL (gás natural liquefeito), apresentado por José Moura Junior, CEO da VirtuGNL, surge como alternativa logística e energética viável para o transporte pesado. Já o biometano, defendido por Daniela Teixeira, diretora de Comunicação da Gás Verde, mostrou-se uma solução renovável e competitiva, capaz de substituir o diesel e reduzir até 99% das emissões de CO₂.
Na mobilidade urbana, Claude Padilha, da Arrow, apontou o avanço dos veículos elétricos nacionais como símbolo de maturidade tecnológica, enquanto Márcio Severine, diretor da ABVE, reforçou a necessidade de expandir a infraestrutura de recarga e formar mão de obra especializada.
Encerrando o painel, Gustavo Bonini, diretor institucional da Scania, sintetizou a mensagem central: “a sustentabilidade começa com emprego e renda, mas depende de um olhar sistêmico sobre energia, poluição, segurança e mobilidade inteligente”. Para ele, a descarbonização exige ação imediata e colaboração entre todos os elos da cadeia produtiva.

Logística integrada e energia limpa: um novo paradigma econômico – O painel seguinte, “Inovações Tecnológicas e Transição Energética na Logística”, mediado por Luís Pasquotto, conselheiro de empresas, startups e terceiro setor, ampliou a discussão para os modais marítimo, aéreo e ferroviário, destacando que a transição energética deve ser vista como um ecossistema interconectado e não apenas como um conjunto de desafios isolados.
No transporte marítimo, Flávio Mathuiy, coordenador dos Temas Ambientais da Comissão Coordenadora para os Assuntos da IMO, defendeu que o Brasil deve desenvolver soluções próprias, valorizando assim sua vocação em biocombustíveis e energia renovável. Ele destacou os biocombustíveis certificados pela IMO como alternativa estratégica de curto e médio prazo, capaz de fortalecer a competitividade do país e a autonomia tecnológica nacional.
Na aviação, Gilberto Peralta, presidente da Airbus Brasil, mostrou que o uso do SAF (Sustainable Aviation Fuel) é a principal rota para a descarbonização do setor. Segundo ele, o Brasil pode responder por até 40% da produção mundial de SAF, apenas com base nos resíduos do agronegócio, desde que avance em políticas tarifárias e previsibilidade regulatória.
O transporte ferroviário, representado por Vicente Abate, presidente da Abifer, foi apresentado como modal estratégico e sustentável para a descarbonização. O executivo destacou projetos com locomotivas elétricas, células de hidrogênio e o aeromóvel — tecnologia 100% brasileira, em fase final de implantação no Aeroporto Internacional de Guarulhos —, além do potencial nacional para produção e exportação de hidrogênio verde.
Já Márcia Perin, coordenadora de Certificações da Be8, apresentou o painel “Cadeias de Suprimentos Verdes – Desafios de Produção e Certificação”, destacando o papel do biodiesel e da bioeconomia na construção de uma matriz energética sustentável. A Be8, maior produtora de biodiesel do país, opera com certificações internacionais como Renovabio, ISCC e CARB, e adota práticas de rastreabilidade com geolocalização de mais de 14 mil propriedades rurais. Para ela, o agro brasileiro é alimento e energia — e o país é uma potência nessa integração.
Consenso: descarbonizar é industrializar – As discussões das Sessões 2 e 3 convergiram em um ponto comum: o Brasil já é potência em alimentos e energia, mas precisa de coordenação institucional e políticas de longo prazo para transformar potencial em protagonismo global.
O evento demonstrou que a transição energética é mais do que uma pauta ambiental — é uma agenda econômica, tecnológica e social. A convergência entre indústria, energia e logística confirma portanto que o futuro do transporte sustentável brasileiro depende da integração entre modais, da produção nacional de tecnologias limpas e da formação de capital humano capaz de sustentar essa nova economia de baixo carbono.





