O Encontro Impactos Positivos 2025, fundado por Gisele Abrahão, ocorreu na quinta-feira, 2 de outubro, no espaço FIAP Paulista, em São Paulo. No painel Inovação a Serviço da Regeneração, especialistas refletiram sobre o papel das tecnologias emergentes, a necessidade de respeitar o tempo da natureza, a importância da diversidade nos processos de inovação e a centralidade das comunidades no desenvolvimento de soluções para enfrentar a crise climática.
O desafio de alinhar tecnologia e natureza
Para o professor Igor Neuro, do Impact Lab Alun, a aceleração do universo digital precisa ser repensada quando o objetivo é regenerar territórios e transformar realidades locais. “Muitas vezes essa regeneração vem mais lenta do que o nosso apetite tecnológico, os nossos avanços de escala baseados em métricas apenas de negócio. Se a gente conseguir ajustar um pouco esse ritmo, já vai ficar mais fácil”, afirmou.
Ele destacou que a pressa em buscar métricas de crescimento pode obscurecer resultados sociais fundamentais, como o aumento da participação comunitária, o acesso de mulheres a oportunidades ou a redução da evasão escolar quando a inovação se conecta à educação. “Quando um projeto tecnológico desperta interesse nas escolas de uma comunidade, ele pode se tornar o motor de uma transformação muito maior do que imaginamos”, disse Neuro.
Aprender com o passado para regenerar o presente
Na visão de Neuro, a inovação regenerativa precisa se apoiar também em referências culturais e ancestrais. Ele lembrou o símbolo africano sankofa, que representa a importância de olhar para trás antes de avançar. “A regeneração vem desse olhar. Volta, pega o que havia de bom e usa a tecnologia por aí o mais profundo possível nesse passado e faz com que o seu futuro possa ser mais interessante a partir disso”, afirmou.
Diversidade como chave para novos caminhos
A executiva Queit Zunino, especialista em inovação com atuação internacional, alertou para os riscos de soluções tecnológicas construídas a partir de grupos homogêneos. “Times diversos permitem que os dados venham por outros lugares. Imagina um grupo de pessoas iguais avaliando dados diversos, vão tornar os dados iguais. É isso que acaba acontecendo”, disse.
Para ela, investir em diversidade não é apenas um imperativo ético, mas também uma forma de assegurar a qualidade das respostas que a tecnologia pode oferecer. “A educação para a criatividade e para a inclusão é fundamental se quisermos diminuir os vieses e ampliar os benefícios sociais da inovação”, completou.
Educação e novos empregos na era digital
Zunino também trouxe dados que revelam os impactos no mercado de trabalho provocados pela revolução tecnológica. Segundo ela, até 2030, quase 90 milhões de empregos podem desaparecer, enquanto cerca de 70 milhões de novas funções surgirão. “Existe uma necessidade de literacia digital e cognitiva, para que possamos aproximar as pessoas da educação e reduzir esse gap. Só assim vamos conseguir preparar a sociedade para lidar com as mudanças”, destacou.
Comunidades no centro da inovação
A especialista em ESG Erika Chou reforçou que nenhum projeto de impacto é sustentável se desconsiderar as necessidades das comunidades locais. “A gente gera muito mais resultado quando traz junto a comunidade para conseguir trabalhar o projeto. Todo mundo se sente responsável, entende a tecnologia e começa a aplicá-la às próprias necessidades”, afirmou.
Ela destacou que soluções pensadas apenas a partir de centros urbanos ou corporativos correm o risco de não atender às demandas reais. “Muitas vezes criamos tecnologias complexas que não fazem sentido para determinados contextos. Uma solução simples, pensada com a comunidade, pode gerar muito mais impacto”, explicou.
O peso ambiental das tecnologias digitais
Chou chamou atenção para os impactos energéticos e ambientais da era digital. Segundo ela, a expansão dos datacenters voltados para inteligência artificial representa um desafio enorme. “Um datacenter habitual consome a energia de 80 mil casas. Um datacenter de inteligência artificial pode consumir o equivalente a 4 bilhões de casas”, alertou.
Além da energia, a demanda por água para resfriamento dessas estruturas cresce de forma alarmante. “Esse é um problema que já está posto e que precisamos enfrentar em conjunto, sociedade e empresas, para que a inovação não se transforme em uma nova fonte de desigualdade ambiental”, acrescentou.
Inspiração na natureza como resposta
Para Zunino, as soluções mais eficazes estão diante dos nossos olhos. “Eles devem ser inspirados na natureza, no poder da regeneração da natureza, que não terá desperdício. A resposta está na natureza”, concluiu, defendendo que os ciclos naturais devem guiar os novos modelos econômicos.
Premiação
Os vencedores do Prêmio Impactos Positivos 2025 por categoria são:
Ideação: SerTão Chapéu (CE);
Operação: PLUVI Soluções Ambientais Inteligentes (PE);
Tração: Engenho Café de Açaí (AP);
Dinamizadores do Ecossistema: Fábrica Social ITI (MG).