Teve início na segunda-feira (4) e terminou na terça-feira (5), em São Paulo, a Smart Grid 2025, uma das principais feiras de negócios, tecnologia e conhecimento voltadas ao setor de energia elétrica inteligente no Brasil. A abertura do evento marcou o início de uma intensa programação que reuniu os principais profissionais da cadeia energética — entre concessionárias, agências reguladoras, empresas de tecnologia, fornecedores, startups, consultores, assim como pesquisadores — para debater o futuro das redes elétricas no país.

A edição deste ano foi fortemente marcada pelo avanço das soluções digitais, pela ampliação da automação e pela consolidação da agenda ESG dentro das concessionárias de energia, reforçando portanto o papel das redes inteligentes na transição energética e na construção de um sistema mais eficiente, resiliente e sustentável.
Durante a feira, os visitantes tiveram acesso a uma vitrine completa de tecnologias de ponta, como medidores inteligentes, automação da distribuição, armazenamento de energia, gerenciamento de carga, integração com fontes renováveis, além de soluções baseadas em inteligência artificial, internet das coisas (IoT) e segurança cibernética aplicada ao setor elétrico.
Além da área de exposição, o evento contou com um congresso técnico de alto nível, reunindo especialistas nacionais e internacionais. As palestras e painéis abordaram temas estratégicos como regulação, novos modelos de negócio, descentralização da geração, mobilidade elétrica, cidades inteligentes, geração distribuída e o uso de dados na tomada de decisão, refletindo dessa forma o movimento de modernização que ganha força no setor elétrico brasileiro.
A Smart Grid 2025 se consolida assim como um evento estratégico para quem busca acompanhar de perto as mudanças tecnológicas e regulatórias que impactam diretamente a operação das distribuidoras, o comportamento dos consumidores e a sustentabilidade do sistema energético. Com uma programação dinâmica, oportunidades de networking e a presença de soluções inovadoras, a feira reforça seu papel como espaço essencial para a transformação digital da energia no Brasil.

Fontes renováveis devem responder por 42% da geração de energia no Brasil até 2034, aponta Fórum Latino-Americano de Smart Grid
As fontes renováveis intermitentes — como a energia eólica, solar , assim como a microgeração distribuída — devem representar 42% da matriz elétrica brasileira em menos de dez anos. A estimativa foi apresentada durante a abertura do 17º Fórum Latino-Americano de Smart Grid, realizado em São Paulo, e reflete dessa forma uma mudança significativa na estrutura energética nacional, que deverá alcançar 320 GW de capacidade instalada até 2034.
Thiago Ivanosky, diretor da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), destacou que o avanço dessas fontes se deve ao menor custo de implantação, em comparação com hidrelétricas e termoelétricas. No entanto, ele alertou que a intermitência dessas fontes — especialmente a solar — pode comprometer a estabilidade do sistema. “Essas tecnologias são mais acessíveis, mas precisamos de hidrelétricas, termoelétricas e baterias para equilibrar o sistema”, afirmou.
Marcelo Prais, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), reforçou o desafio técnico: até 2029, apenas 42% da energia gerada estará sob controle do operador, enquanto o restante virá de fontes não controláveis. A solução, segundo ele, está na digitalização e modernização das redes. Ele anunciou que o ONS e a Aneel estudam um novo modelo regulatório que prevê a criação do DSO (Distribution System Operator), responsável por integrar a geração distribuída, baterias e até veículos elétricos à gestão do sistema.

A proposta, no entanto, foi questionada por Marcos Madureira, presidente da Abradee. Ele criticou o fato de as distribuidoras não terem controle sobre a geração distribuída e a dificuldade em realizar investimentos sem a possibilidade de reajustar tarifas.
Agnes Maria de Aragão da Costa, diretora da Aneel, afirmou que a agência já prevê mudanças nos contratos de concessão, com espaço para novos modelos econômicos e tarifários, baseados em dados fornecidos por tecnologias emergentes.
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) também se prepara para a abertura do mercado livre a consumidores residenciais (grupo B), conforme anunciou Adriana Aoki. Um novo sistema digital promete facilitar o processo de migração, com menos burocracia.
Representando o governo, Frederico de Araújo Teles, do Ministério de Minas e Energia, destacou a Portaria nº 111/25, publicada em junho, que estabelece diretrizes para a digitalização gradual das redes, com foco na qualidade do serviço prestado ao consumidor e na redução de interrupções.
O Smart Grid 2025 também trouxe uma perspectiva internacional com Reji Kumar Pillai, presidente do Fórum de Smart Grid da Índia. Ele apresentou soluções adotadas em seu país, como medidores inteligentes que otimizam a recarga de veículos elétricos e permitem o envio de energia de volta à rede nos horários de pico. Os usuários, segundo ele, ainda podem obter um certificado de uso de energia renovável para seus veículos.
Para o organizador do Fórum, Cyro Boccuzzi, CEO da ECOee, o desafio atual é equilibrar inovação com sustentabilidade financeira. “Não basta digitalizar. É preciso garantir custo-benefício. Inovação não pode vir a qualquer preço”.